De Anjos

1

É lá que tramam os anjos!
Entre uma palavra e outra
No silêncio da intenção.

Ali, na dobra,
Onde uma gota d’água pousa
Sobre a textura da flor.

Onde soluça a criança
Na respiração do universo.

Lá tramam os anjos
No cantar e no dançar,
Em um suspiro, em um olhar, no gesto.

2

O que escrever agora,
Quando nada há a escrever?
Escrever a morte?
Mas se não se lê a morte,
O que fazer?

Talvez um anjo se debruce
Sobre o meu ombro
E saiba, em silêncio,
Tudo o que (não) dizer.

3

Pense na torre de Pisa,
Ereta
Em sua tortividade.
Mas nós é que somos tortos,
Em cada cidade.

O anjo de asa quebrada
Trás o sopro da perfeição.
Acalantos, depois preces,
Mantras, OM.
Pense na torre de Pisa,
Pense no som.

4

Algo se tece,
Os anjos tecem
Os bosques.

A folha descansa,
Ninguém fala,
O nevoeiro avança,
A vida pára.

5

O medo passa como um solfejo,
Um apelo,
Algo sutil
Que, se olhado,
Não tem nenhum medo.

Ah, que sob a neblina
-Na floresta mesma-
Úmida, in-penetrante –
Teu anjo te espera.

Seja folha, faça parte,
Seja seiva, portanto;
Seja terra.

6

É na fímbria,
Onde flui a impossibilidade
Velando toda possibilidade,
Que se pode vê-lo,
Porque, somente, sentido,
Pode-se tê-lo.

Um abraço envolvente
Que nos toma a alma;
Um mergulho intenso,
Além das palavras,
Em um lapso.

Entre o medo e a calma,
Na fímbria e na alma.

7

A minha vida é esta,
Outra não tenho para viver.
Sou único,
Como você.

Sou único em minha textura,
Nada me faz outro.
Como posso um outro viver?

Lin de Varga

Comments (1)

Ana Lúciasetembro 21st, 2009 at 10:08

Fantástico! Poesia de primeiríssima qualidade. Grande abraço. Ana

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