EIS QUE TRAGO QUE SABE O NÃO MANIFESTO

QUAL O SENTIDO DE SUA VIDA?

Como procurar o sentido da vida se, para fazê-lo, você tenha de constatá-lo na linha do tempo, nos acontecimentos que se equilibram nela e que foram riscados por uma caneta cuja tinta se enfraquece paulatinamente e chega à dissolução?

Em que momento terá ele, o sentido, surgido? Em que momento começou o enredo do filme que faz o fluxo de pensamentos? Era a sua poltrona de observador confortável, ou você foi participante ativo, vivendo a dor e o sofrimento dos dramas inventados?

Lembro-me de um acontecimento na minha infância (talvez eu tivesse uns seis anos) e estava em Nova Friburgo, RJ, Brasil, e brincava na rua, quase ao anoitecer, com um amigo. Acho que vagabundeávamos mesmo, olhando uma coisa e outra.

Havia na referida rua o Sanatório Nava l(não sei se existe ainda), para o qual eram encaminhados os militares da Marinha doentes, particularmente os tuberculosos. Havia uma guarita junto ao portão que protegia a subida até à sede, lá em cima. Ali estava um guarda, e, na minha lembrança, em posição de sentido.

Eu perguntei ao amigo se ele duvidaria que eu fosse à frente do militar e lhe fizesse continência, ”Duvido”, foi a resposta óbvia.

Lá fui, postei-me na frente do guarda e lhe fiz continência. Eu tinha seis anos! O homem tirou um cassetete da obscuridade da guarita e me desfechou um golpe violento nas nádegas.!

A dor intensa, é claro, “sinto-a” agora, ao escrever sobre a linha do sentido de minha vida.

Fatos como esse, que nos atravessam durante a vida, a impregnação dos pais e tantos outros, talvez destruam um sentido para a vida, se você vive na febre da mente condicionada, feixe de pensamentos presos à necessidade de ser alguma coisa no futuro, miragem nunca alcançada, porque a procura no deserto é árida e o oásis não existe.

Se não se vai além da mente, se não se a olha em perspectiva, como pura testemunha, um acontecimento como esse é irremediável. Não poderá ser aliviado, via mente, mesmo que se juntem todos os terapeutas sobre a Terra. E os há, muitos, guardando sob a manga o trunfo do “ caminho certo”

Algo foi esfacelado lá, no âmbito do nascer e viver. É preciso morrer para ser outro. Não renascer: Ser outro.

O exemplo foi dado, porque surge de um inesperado que não pode ser assimilado jamais. Quantas pessoas estão nos consultórios de psicólogos porque papai e mamãe foram rudes com eles ”Papai e mamãe” fornecem um suposto sentido; pelo menos isso.

“Uma mente que é resultado do passado não pode libertar-se do passado por seu próprio esforço. O mais que pode fazer é tornar-se cônscia de suas reações, cônscia de como guarda ressentimentos, para depois perdoar”, diz Krishnamurti.

Se eu pudesse mudar minha vida, gostaria que não houvesse nada a mudar, porque, de fato, nada existe a ser transformado na esteira de ficção que se estende e que denominamos passado. Mudei-a já, ao perceber que, dando um passo atrás, sou atemporal, além ou aquém do fluxo de pensamentos, um mudar de foco dado à atenção.

Atenção plena, ao Agora que é, em primeira instância, nossa verdadeira natureza. ”Pensar é estar doente dos olhos”, vislumbrou Fernando Pessoa.

“Para falar significativamente do começo de algo, você deve sair dele.”,diz Sri Nisargadatta Maharaj”.

Aquele acontecimento lá na distância da infância é uma miragem. Agora, Sou no eterno presente. Encontrei meu oásis.

LIN DE VARGA

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