Eis que trago o que sabe o não manifesto

O Fado

No silêncio pleno de energia e êxtase que se segue à tempestade, no fundo da madrugada, cujos únicos ouvintes são meu silêncio e as florestas, e os bosques, e as colinas, e os jardins. Vamos combinar! Quem ser, o que saber?

É possível transformar a palavra em consciência?que ela não seja indicadora, mas verdade? Pode ela nascer de uma mente limpa, de um cérebro silencioso, do desconhecido sem nenhuma programação? Essa é a pergunta.

Já não tenho tempo e poucas estações. O trem continuará,mas eu tenho um encontro inadiável com o êxtase (a)final- eterno, e isso só pode acontecer em minha casa.

Talvez escrevendo-se sem nexo, não encontrarão nada e encontrarão o desconhecido. Só se lê do conhecido, nem que seja a partir do hálito da mãe. A palavra lhe foi ensinada pelo outro, no idioma dele. Quantos idiomas e dialetos há? Não se pode sussurrar.

Não sei o que aconteceu neste dia, mas é algo transcendente e importante. Entre ter ouvido Ramana dizer “A inquirição pode estar além do pensamento”, ou quase isso, e ler Clarice no que se refere ao espelho e a cortante, perfurante, dolorida verticalidade, “alguém” brotou em mim, tão além de qualquer experiência, de qualquer vida, de qualquer sei lá o quê, que me liberto na expressão mesma da liberdade.

É inalcançável, inconcebível, e, no entanto, sinto isso, ou aquilo, tão certo de que estou certo, que não há possibilidade de que qualquer cristalização venha a me corromper, qualquer FADO, qualquer ressentimento. Estes últimos estão,inadiavelmente, na existência de uma bolha que já explodiu no ar.

Palavras impotentes, este sentir não é sentir, é ficar no intocável e ser liberto de qualquer formatação. Este AFEITO a mim, sem nenhuma necessidade ou desejo,É, É absolutamente, em uma certeza além de qualquer crescimento, ou, por outra, uma certeza que come o conhecimento, o crescimento, e o expele como pura energia. É irremediável.

O que impressiona é todo mundo ser inventado e ninguém que eu saiba, sequer ter escorregado dessa ficção, para o imensurável. Há sensação sem palavras? Você pode sentir além do pensamento?

Escovo os dentes como se limpasse a alma. E quero transpirar em todos os planetas e na estrela mais próxima, e no rosto da criança surpresa com a vida.

Finalmente, a gota se dissolveu no oceano e não havia a gota nem o oceano. O que se dissolvia não sabia de dissolver-se. É só o que permanece sem permanecer.

É isso. No ato de buscar,a perda.

LIN DE VARGA*

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