Um outro lugar

Nada me pode convencer
Que eu não seja de outro lugar.
Quem sabe exista um mantra
No qual eu possa estar?

Qualquer coisa nas asas dos pássaros,
No mar.
O riso falso que se demora…
Deve haver um outro lugar.

Um único olhar de criança sentida:
Outro lugar.

O pedido, sem palavras, do embriagado,
A mulher que apanha ao lado,
O mendigo devorando restos,
Um tolo cheio de gestos,
A manteiga que escorre no pão,
Ataque do coração.
Deve haver outro lugar.

Uma árvore sem sombra,
Um sem sentido original,
Igreja vazia e fresca,
Igreja cheia e vazia,
O desespero do coroinha
Que nunca terá sua missa.
Deve haver outro lugar.

A aflição dos pombos sobre o parapeito,
Um aperto de mão sem jeito,
Um beijo sem salivação
E tantos cuspes no chão.
A balança aumentando o peso,
A conversa do rico e do teso,
Uma greve pela liberdade de expressão
Impedindo a de locomoção.

Os olhos que não se olham,
Que se defrontam e se confrontam,
Aqui, neste lugar.
Os corpos enrijecidos,
Um menino magoado,
Criança ferida,
A mãe que oprime, deprime,?

Aquele lugar outro, além de mim,
Perto de mim, é o meu lugar.
Quero estar nele e, quem sabe, não precise…
Nunca, nunca mais voltar.

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